quinta-feira, 26 de novembro de 2009

01. MÁSCARAS DA PAIXÃO
(A razão da loucura)
O show vai começar...
Me preparo intimamente, escolho a fantasia que vou me apresentar.
Fico entre a escolha, de uma criança inocente, uma jovem indolente, ou uma super star.
Mas me olhando no espelho, no infinito do silêncio me pergunto, se a fantasia que visto, não é a mais adequada, para o meu íntimo encenar.
O show vai começar...
A pressão da minha razão, encurralada na cortina, faz gritar o coração e a calma fraquejar.
Sinto a vida tão latente, com fantasias de ilusão, pisar no palco, tão firme, sabendo que irá representar com um sorriso radiante, a coerência da paixão, que a loucura fez presente.
Na minha alma o silêncio. Nos meus olhos uma canção.
O meu corpo ardendo em brasas representa comigo, um desejo escondido.
E o sorriso continua talvez querendo contrastar, com a fúria da razão e a candura da loucura.
Aí então eu vejo... a causa do meu espetáculo, sentado na primeira fila, um sorriso até simpático, que esconde a indiferença, que agride a minha paz.
Mesmo assim estendo a mão... convido o anjo cúmplice a viver e reviver ao meu lado, neste palco.
Mas recusa-se o convidado, preferindo a platéia.
Então mais uma vez, a mesma grande dor me invade...
Aí então com afinco, segurando meu sorriso, levanto minha cabeça e com o espetáculo prossigo.
Com segurança de artista, escondo a depressão, faço a platéia sorrir, me envolvo com as luzes, me consolo com aplausos.
Cai a cortina lentamente...
Permaneço ali por segundos, com a imagem do meu anjo, desenhada no escuro.
Volto ao meu espelho, revivo cada segundo, e sem precisar esconder, sem ter que representar, uma lágrima lambe meu rosto, indo morrer na minha fantasia, como gota de orvalho que desliza incontida, seguindo seu caminho num pequeno espaço de vida.
Atrás dessa vem muitas, fazendo com que a fantasia, outrora tão colorida, fosse a cada espetáculo, rasgando e perdendo a cor.
Retiro a máscara usada, com aquele sorriso usado, reflito, respiro, revisto, as marcas que a máscara fez.
Coloco no canto isso tudo, respira um suspiro profundo, enxugo a tristeza do olhar.
Ergo meu ego, prossigo, pois sei que afinal pelo anjo, jamais o espetáculo pode parar...
09/05/1989.